uma breve viagem nas 
palavras do livro

as pedras, as personagens, os segredos, os lugares e os tempos

«Fundindo ficção e História de forma engenhosa, é uma leitura vívida e cativante sobre um período esquecido da nossa história, onde o dia-a-dia era feito de paixão e de sonhos, mas também de deslealdade e morte.»

«Cabrões dos nazis! — grunhiu Custódio, tal era a cólera que lhe ardia no peito.
— Tem calma, pá, olha que o padre ainda te dá um berro — advertiu‑o num sussurro o seu irmão Manuel. — Deixa‑o acabar o enterro.
— Cabrões… — repetiu inconformado, com uma expressão de fúria que o entardecer invernoso lhe congelara no rosto.»


Assim começa a narrativa que se desenvolve ao longo de 350 páginas, mergulhando num dos períodos mais sombrios da história mundial — um tempo de batalhas travadas nos campos de guerra e nos corações daqueles que o viveram

as pedras negras

a história gira em torno das enigmáticas rochas que, em tempos de guerra, eram mais desejadas do que o ouro

«Não tardou, portanto, até o volfrâmio ser um metal essencial no fabrico de armamento (...), tal como veio a acontecer na alvorada da Segunda Guerra Mundial, quando a sua procura disparou...»

«Mas havia agora uma nova loucura que enlaçava o povo, uma insanidade que as pessoas abraçavam movidas pela ganância, lançando uma maldição sobre si mesmas. A origem de tal desgraça estava escondida no solo, nas pedras negras incrustadas de volfrâmio.»

«— O minério está amaldiçoado, Custódio — respondeu com timidez. — Por algum motivo, Deus Nosso Senhor o escondeu tão fundo debaixo das serras.
As palavras de Maria resumiam a única convicção que perduraria acerca da maldição das pedras negras.»

as personagens

aldeões, espiões, estadistas, bruxas, santos...
A lista de personagens é tão rica e diversa que transcende as fronteiras deste mundo!

«Escondido pela sombra da noite, o Rezador seguiu para a morada amaldiçoada de onde tencionava expulsar o nefasto inquilino.» 

"Custódio e Maria viviam em casas contíguas na rua principal de Cabreiros (...) A família de Custódio, conhecida por aquelas bandas como «os do Aido» (...) Logo abaixo na rua, estava a casa da família de Maria... conhecida nas aldeias como «os do Pedro»." 

«— Boas tardes, Sr. Paddy — devolveu Maria, atenta ao modo como o olhar desmaiado do inglês se iluminara ao ver a amiga. — Esta é a Margarida.»

«— Quem é vossemecê para interromper assim a missa?! — barafustou.
— Sou o Messias de Manhouce.
Os fiéis ficaram em alvoroço. E não era razão para menos...»

«— Bem disse o Salazar que nos livrava da guerra, mas não da fome.»

«Ali estava o motivo de tanto assombro — Isadora Soverosa de Albergaria da Serra, criatura com tantos anos que ninguém conseguia enumerar.» 

«Kurt Dithmer tinha até uma certa amabilidade estampada no rosto, em claro contraste com o retrato pendurado na parede, onde Hitler, de olhos esbugalhados, parecia furioso por não lhe oferecerem também o pequeno‑almoço.» 

«Trémulo, o Führer cambaleou até ao sofá ao encontro da mulher. Não desejava encontrar a morte nos seus braços, como em vida encontrara o amor; tinha apenas medo de morrer sozinho...»  

os segredos

da primeira à última página, os segredos permeiam a trama, desempenhando um papel crucial na vida das aldeias, e nos destinos do mundo

«A par dessa procura desenfreada, os ingleses compravam também o que podiam, numa interferência permanente nos planos alemães (...) Foi aí que o destino decidiu uma vez mais intervir, levando até Cabreiros segredos que poucos conheciam num país à margem do conflito.» 

«Agradecida aos céus, aconchegou‑se  debaixo das mantas pesadas que a protegiam do frio, enquanto Custódio guardava a carta no cofre vermelho, juntamente com todos os outros segredos lá escondidos.»

«O segredo, esse, ficaria para sempre no alto da aldeia, sepultado entre as mãos de Nestor dos Vinhos.»

«P.S. — Peço‑te que destruas esta carta. Guarda os seus segredos na tua memória, e a nossa lembrança no teu coração.» 

«Soldados nos bastidores da guerra, seriam um segredo esquecido, como tantos que lutaram para manipular o desfecho das batalhas nos palcos do conflito.» 

os lugares

desde a agitada aldeia de Cabreiros, escondida nas serras, até ao bunker da Chancelaria em Berlim, os eventos desenrolam-se por uma variedade de cenários

«Com as suas minas a poucos quilómetros de Cabreiros, eram os alemães quem mais mexiam com as suas gentes. A Companhia Mineira do Norte de Portugal trouxera até Rio de Frades e suas cercanias um desenvolvimento ruidoso...»

«Este jogo duplo, cheio de segredos e estratagemas à escala internacional, originou uma singularidade nesses tempos conturbados — um lugar onde ingleses e alemães se cruzavam sem a animosidade bélica dos palcos da guerra, frequentando os mesmos cafés e bordéis, e até cooperando na construção de uma estrada para acesso aos seus coutos mineiros de volfrâmio, que distavam poucos quilómetros entre si nas serras perto de Arouca, no Norte do país.» 

«— Sim, fui a Regoufe. Mas também passei por Rio de Frades.
— E o que é que lá foste fazer?
— Falar com os alemães e com os ingleses...»

«Cada vez mais ritmados e intensos, os rebentamentos anunciavam a chegada dos comunistas. Não tardariam a amontoar‑se no seu bunker, como vespas na carniça.» 

os tempos

a acção decorre entre 1941 e 1945, um dos períodos mais conturbados do século XX

1941 
«— (...) Os alemães não querem saber de nós. Somos animais de carga e ratos que entram pelos buracos do chão para andar ao volfrâmio.»

1942

«O empreendimento, que ia já de feição para Portugal, melhorou em Janeiro de 1942, quando o Governo português reviu os termos do seu acordo de volfrâmio com o Terceiro Reich

1943
«— O vosso Governo não quer que saibam que estas derrotas deram origem a uma nova guerra (...) Os alemães chamam‑lhe a guerra total…» 

1944
«...longe dali, Winston Churchill reescrevia os destinos do mundo, ao insistir com o ditador português para que este estancasse a saída de volfrâmio de Portugal, há muito o único fornecedor da Alemanha.» 

«Chegara assim o momento que o patriarca dos «do Aido» profetizara — o fim da era do volfrâmio. Nunca saberia, no entanto, se seria o fim da guerra a acabar com o minério ou o fim do minério a acabar com a guerra.» 

1945
As gentes pareciam felizes por regressar a si mesmas (...), muito embora continuassem enleadas no véu opaco da maldição. No seu íntimo, ansiavam por uma qualquer reviravolta nos destinos do mundo, (...), que voltasse a fazer do minério uma fonte de riqueza...»